INTRODUÇÃO
No ano em que comemoramos o centenário da IELB, é importante olhar para o passado e conferir como Deus foi gracioso, avaliar o presente e projetar o futuro.
No ano de 2004 a Congregação “da Redenção”, completa 60 anos de trabalhos dedicados ao serviço do Senhor, oferecendo a palavra de Deus na sua pureza, mantendo-se viva e ativa.
Ao lembrar a nossa história, estamos testemunhando o que Deus tem feito por nós e podemos dizer: A sua misericórdia dura para sempre.
Assim como recebemos o bom testemunho de nossos pais, que nos levaram ao santo batismo, nos legaram o ensino correto da sua Palavra, da doutrina de Cristo e da verdade Bíblica, assim queremos continuar testemunhando hoje e sempre as maravilhas que Deus fez por nós em Jesus Cristo.
O mundo muda, as pessoas mudam, as tendências da época são outras, mas Deus é o mesmo, e seus propósitos também.
Temos que entregar nossa vida e nosso trabalho nas suas mãos e servirmos como instrumentos de Deus, no trabalho da nossa igreja.
Não vamos esquecer de fazer, no mínimo, a nossa parte.
Que Deus continue nos abençoando, e que a graça de Deus esteja com todos nós.
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HISTÓRICO
CONGREGAÇÃO “DA REDENÇÃO”
PASTORES QUE TRABALHARAM NA CONGREGAÇÃO
DESDE 1941
1942 a 1960 Rev. João José Alves
1960 a 1967 Rev. Johannes Hermann Gedrat
1967 a 1989 Rev. Daltro Bertholdo Kautzmann
1987 a 1993 Rev. Ênio Starosky
1994 a ..... Rev. Dari Trisch Knevitz
2014 a ..... Rev. Carlos Weirich
PASTORES QUE TAMBÉM AUXILIARAM NO TRABALHO DA CONGREGAÇÃO:
1956 Rev. João Abrelino Borges
1960 a 1964 Rev. Hector Pacheco Harzot
1964 a 1965 Rev. Edgar Klein
1970 a 1977 Rev. Hermann Auel
1980 a 1983 Rev. Arnaldo Hoffmann
1993 Rev. Elmar Hepp
1996 a 1997 Rev. César Scholz
ESTAGIÁRIOS:
1966 Hélio Luckei
1970 Nilton Goerl
1978 Arnaldo Hoffmann
1980 Nelson Kisler
1984 Claudio Kurtz
1984 Matinho Voss
1991 Artur Mohr
1992 Gerson Luiz Uhlmann
1999 Ivan Tresman
2000 João Néri Fazioni
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REVERENDO JOÃO JOSÉ ALVES
Nome dos pais: Valério Antônio Alves e Maria Onélia Alves
Nasceu em 03/01/1909 em Solidez Município de Canguçu
Esposa: Menaides Ferreira Alves
Nasceu no dia 25/10/1913 em São Jerônimo
Tiveram os seguintes filhos:
Nadir Janine Alves faleceu com 2 anos de idade
Nehythes Darmilly Alves nasceu em 10/07/1933
Althahyr José Alves nasceu em 24/ 09/1934
Mariza Duodir Alves nasceu em 19/ 05/1941
Filiaram-se à Comunidade em 23/08/1943 por transferência de Manoel dos Regos.
A esposa Menaides faleceu em 14/10/1947.
Causa da morte: Tuberculose
A 2º esposa Edith Alves de Alves nasceu no dia 18/03/1927, foi confirmada em 11/09/1949 e casaram-se em 29 de setembro de 1949.
Tiveram os seguintes filhos:
Luiz Valério Alves de Alves - nasceu em 16/01/1951
Nóris Helena Alves de Alves - nasceu em 17/02/1952
Ângela Maria Alves de Alves - nasceu em 09/05/1953
Rosáh Cristina Alves de Alves - nasceu em 04/02/1955
Paulo Renato Alves de Alves - nasceu em 26/05/1956
O Reverendo Alves despediu-se como Pastor da Congregação em 28/06/1959.
Faleceu no dia 18/09/1961 em Pelotas e foi sepultado em Solidez, município de Canguçu.
Causa da morte: Insuficiência respiratória e ataque cardíaco.
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RETALHOS DA NOSSA SEARA
PARÓQUIA DA REDENÇÃO
(Fonte: O LAR CRISTÃO 1947)
Conta o pastor J. Alves:
Estávamos no verão de 1945. Nossa carroça, rodando sob o sol causticante de fevereiro, pelas estradas empoeiradas de Canguçu, de repente parou. Havíamos chegado a Manoel dos Regos. Ligeiro saltei em terra e fui logo abraçando os saudosos irmãos que se haviam reunido à minha espera. Após, recolhemo-nos em torno de um refrigerador «amargo».
A noite caíra densa e tenebrosa. Lá fora, cessados os passos apressados e o assobio dos trabalhadores que se recolhiam de suas lides, tudo era silêncio. Cá dentro, porém, enquanto a cuia ia e vinha, efervescente animação. Falava eu nessa ocasião, interrompido ora por esta ora por aquela pergunta, sobre nossa última convenção sinodal.
Só um dos circunstantes não ousara me interromper. Membro, dos mais antigos da Comunidade de Manoel dos Regos, perguntou-me, porém, de chofre, ao terminar: “Então, filho, viste o Reverendo Augusto Drews?” Era chegada a sua vez, pelo que mesmo, sem mais esperar, assim continuou:
-- “Tenho saudades daquele homem. Seu nome está ligado aos últimos 25 anos da nossa existência. Oh! quanta recordação!”
Quando ele apareceu, pregando o Evangelho entre nós, éramos como os xucros na terra. Nossa ocupação não era tanto o trabalho consciente do dever. Eram os bailes, os jogos, as carreiras, o feitiço, o mexerico, a desordem tudo o que não prestava. Nosso culto, dirigíamos aos deuses mudos dos nossos antepassados. Nossos filhos cresciam, na maioria, sem
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escola. Nossos mortos desciam à sepultura sob as lágrimas do nosso apavorado desespero. Densas trevas de aflição pairavam sobre o nosso horizonte de salvação e tudo para nós era triste como triste era a aridez de nossos campos.
Entrementes, Deus, na sua infinita misericórdia e graça, para nós fez raiar uma grande luz. No ano de 1919, trouxe aquele homem que, começando por atrair-nos para os cultos de sua capela e a nossos filhos para sua escola em Solidez, terminou implantando, dentro do nosso arraial, o estandarte da salvação.
Naturalmente, isto não se fez de um para o outro dia. Custou-lhe muito trabalho e enfado. Constantemente nos dizia: “O vosso caminho conduz para o inferno. Não vos adianta ajoelhar diante dessas vossas imagens. Tais figuras são ídolos que nada podem ajudar. Adorá-las é pecado.”
Alguns não gostavam e saíam, mas a sua pregação continuava: “Tornai-vos adoradores Daquele que fez o céu e a terra. Só Ele é Deus. Não quer que alguns se percam senão que todos venham a arrepender-se e se salvem. Sacrificou para isso por nós, seu Unigênito Filho Jesus Cristo. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Unigênito Filho, para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna.” Aí parava, como que procurando a melhor maneira de atingir o nosso coração, depois clamava: “Oh! Crede nele. Ele é o Salvador. O seu sangue nos purifica de todos os pecados e nos habilita com o legítimo passaporte para os céus, onde há delícias e alegria perpetuamente.”
Em torno dessa vigorosa pregação nós, os parentes mais chegados do reduto em que morávamos, fomos, aos poucos, nos agrupando. E o tempo foi passando e tudo para nós foi mudando.
Nossa relação com o mundo, nossos folguedos gradualmente acabaram. Nossas chocarrices converteram-se em hinos de louvor e nossas cabanas em templos. O nosso facão e a nossa garrucha, trocamos por Mateus 18. “Foi ou
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não foi?” interpelou sorrindo o nosso cronista, e depois, voltando-se para mim, prosseguiu a nossa narração.
Em 1924, todos apoiávamos o teu ingresso no Seminário Concórdia de Porto Alegre. Sonhavas em morar nas selvas, munido de uma espingarda, um cão e uma espada. Mas, trocaste tua aspiração estulta pela suprema destinação de seres um servo do Senhor. E lá te foste. E eu te acompanhei, na primeira vez.
Nessa viagem – nunca me esqueci – levei um formidável tombo ao saltar de um bonde ainda em marcha. Zonzo e todo duro, levantei-me, a custo, e encaminhei-me contigo para o Itapema que nos levou através da formidável Lagoa dos Patos à linda cidade de Porto Alegre. Ali ficaste. No segundo ano do teu estudo, realizou-se tua confirmação na Comunidade S.Paulo pelo saudoso Reverendo Rehr. A nossa primeira confirmação aqui só teve lugar em 1927. Nessa ocasião já possuíamos nosso próprio local de cultos e um harmônio que nos presentearam os irmãos da América do Norte.
A nossa confirmação foi o ato mais importante da nossa vida até agora. Éramos 27 em número. Nossa capelinha, ornada de verde, estava repleta.
Junto de nós prostravam-se nossas esposas e alguns de nossos filhos. Todos juramos ao Senhor e à sua igreja, fidelidade até a morte.
Contudo, nem todos foram fiéis. Enquanto uns dos nossos perseveraram até ao fim, morrendo no Senhor, outros já o tinham abandonado. Destes últimos, sabemos que um nos deixou para sempre. Morreu no endurecimento, após ter-se separado de nós por repetidas vezes na vida inconstante e as rebeldes, que, por entre lágrimas de saudades daqueles que, em breve, eu verei no Reino do Senhor Jesus, nos surja o seu apavorante espetro para exemplo dos que a graça quiseram aos pés calcar.
Nesta altura, fez nosso irmão um minuto de silêncio,
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passou ligeiramente a mão pela fronte, como para afastar tristes recordações e depois prosseguiu falando.
Infelizmente, não devia agora o missionário que nos gerara pela Palavra de Deus e nos guiara com desprendido carinho e amor, permanecer mais por muito tempo entre nós. Circunstâncias imperiosas obrigaram-no a deixar-nos na orfandade. Ao despedir-se disse-nos: “Permanecei na doutrina que aprendestes e retende firme a confissão da nossa esperança! Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder! Sede fiéis até a morte e tereis a coroa da vida!”
Nos anos que seguiram, esteve a nossa escola a cargo do então professor Emilio Wille. Os nossos cultos foram dirigidos, primeiro, pelo sr. Reverendo Ewaldo Elicker e, depois, pelo sr. Reverendo Eduardo Sonntag. Enfim, em 1932, instalamos o nosso próprio pastor. “Eras tu” disse-me então nosso cronista. Havias completado teu estudo e vinhas, a nosso chamado, continuar a obra do teu primeiro professor. Tuas palavras de entrada em nossa Comunidade foram: “Nenhum profeta é bem recebido em sua terra”. E foi um fato. Logo à tua chegada houve luta. Deu-se assim: nossos anteriores orientadores planejaram a construção da nossa casa paroquial pegado à igreja. Tu, porém, chegando, a isto te opuseste. E o caso tornou-se tão grave que foi preciso a Comissão Missionária dar-nos um golpe de estado. Financiadora da nossa causa, nomeou uma comissão de irmãos não-membros de nossa Comunidade e pôs diante de nós o ultimato de ficar sem dinheiro ou de edificar pegado à igreja. Optamos pela última proposta e a casa saiu.
Corroborando com esse, diversos outros acontecimentos vieram, no correr do tempo, confirmar a veracidade daquela asserção. Entre muitos, quero aqui lembrar, com sincero pesar, aquele rumoroso caso, no qual eu fui achado em grande culpa. Sacudida violentamente a nossa congregação pelo meu grave pecado, procurou o diabo por todos os meios aproveitar da circunstância de ser eu teu pai,
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para colocar-te numa posição esquerda ao teu compromisso de pastor.
Todavia, tudo se venceu e o Senhor Deus, nossa fortaleza, fez-nos crescer para este grande rebanho que hoje se vê. A despeito de todos os nosso reveses, o número passou de 60 para 230 e as nossas contribuições de 200 para 4 mil cruzeiros. Em tudo o Senhor nos aparelhou pela pregação da sua Palavra com uma vontade forte para prosseguir na senda que nos estava sendo traçada. E nós prosseguimos. Empreendemos o estudo sistemático das Escrituras; arregimentamos a nossa mocidade; introduzimos a contribuição dupla por envelopes, compramos livros e assinamos revistas de nossa Igreja; construímos o nosso próprio cemitério, necrópole elegantemente amurada, onde dormiremos à espreita do dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Efetuamos nossa filiação ao Sínodo da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e, sobretudo, alargamos nossas fronteiras para Rincão do Amaral, Passo João Pereira, Arroio dos Valadãos, Cidade de Canguçu, Cerro Partido e Cercado Velho, lugares que, mais tarde, foram plasmados em Capão Bonito, ora anexado à paróquia do sr. Reverendo Leo Winterle e em Picada dos Rosas, nossa comunidade irmã.
Desse modo vimos a benção do Senhor, nosso Deus, em toda a parte. Mas, os fundamentos se transtornam. Na atualidade é triste e desolador o estado de cousas em Picada dos Rosas. Há bem pouco disseste-nos a respeito: “O trabalho na Comunidade do Redentor vai mal. Dada a emigração e a distância que separa seus membros, tem o diabo semeado ali, por seus agentes especiais, o indiferentismo, a inação e a avareza para com as cousas de Deus. A frieza espiritual na comunidade é tão grande que nem mesmo o calor da generosidade do sr. Saturnino Lopes, comerciante que, por todos estes anos, deu-lhe casa e agora, um terreno de 1500 m quadrados para a construção do seu próprio local, consegue aquecer. Dito isto, exclamaste: “Que Deus tenha pena de
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nossa irmã!” Que assim seja, acrescentamos, rogando que o Senhor lhe conserve a sua Palavra, dando a ele e a nós ampla oportunidade de missão entre o grande número que ainda nos rodeia, tateando em trevas! Este dever é nosso, hoje, mais do que nunca.
Assim penso, porque hoje já não moras mais entre nós. Há 12 anos aqui entraste e saíste, conosco folgando ou chorando. Por fim, a dura e persistente enfermidade de tua esposa determinou a tua transferência para Pelotas, onde, já em 1941, havias iniciado a pregação do Evangelho do Cristo Crucificado.
De lá vens de tempos em tempos, trazendo-nos destacada mensagem para estimular-nos à fé , à santificação, à conservação e propagação desse inigualável tesouro que, já há 25 anos está em nosso poder. Refiro-me à pregação do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual nos fez capazes de apresentar nossos membros, que dantes serviam a imundícia para a imundícia, a Deus, para o servirem como vivos dentre mortos.
Nesses 25 anos, uma nova geração se levantou entre nós. Nasceu de nossas entranhas, cresceu e se está multiplicando dentro da nossa querida Igreja Evangélica Luterana.
A esta geração, eu, um dos mais velhos dos seus troncos, confio esta história para que ela conte os feitos da salvação do Senhor, nosso Deus para conosco, a seus filhos e aos filhos de seus filhos.
Assim falando, voltou-se meu velho pai para a mocidade que o cercava e concluiu: “Ide, meus filhos; sede fiéis e continuai arregimentados para levardes avante esta gloriosa obra que, em Nome do Senhor Jesus, prega o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações.” “Amém”, disseram nossos jovens e juntamente acrescentamos: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome! Bendize, ó minha
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alma, ao Senhor e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios! É ele quem perdoa todas as tuas iniqüidades e sara todas as tuas enfermidades: quem redime a tua vida da perdição e te coroa de benignidade e de misericórdia: quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a águia”. Psa 103. 1-5.
Depois tudo cessou. Eram já altas horas da noite. No dia seguinte, reunimo-nos todos em nossa capelinha, a qual, dominando majestosamente o nosso reduto, parecia clamar junto com o nosso pregador: “Vinde, cantemos ao Senhor! Cantemos com júbilo à Rocha da nossa salvação! Foi Ele e não nós que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto. Eterna é a sua misericórdia e a sua verdade estende-se de geração em geração.”
Nosso último canto havia soado na amplidão daqueles saudosos céus lá do meu rincão. Eram precisamente 12 horas do dia, contudo, ninguém se mexia. De súbito alguém falou: “Senhor ministro, ontem recordamos o passado; agora pedimos-lhe que, à tarde, depois do nosso culto missionário, nos fale da sua missão em Pelotas” “Apoiado, apoiado!” – gritaram todos.
«Levantai os vossos olhos e vede as terras que já estão brancas para a ceifa», ecoou na hora do culto. Depois tudo cessou. Era chegada a vez da missão em Pelotas.
“Movido pelo vosso desejo – disse eu, iniciando – de levar o conhecimento da salvação aos nossos irmãos de raça, residentes em Pelotas e Canguçu, investiguei em 1941 essas cidades e em vista da grande miséria espiritual de nossos irmãos ali, dirigi-me à Comissão Missionária, que me deu a seguinte ordem: «Vai a estas cidades e prega-lhes Cristo, o crucificado!» E eu fui e disse-lhes com toda a simplicidade que eram homens perdidos e condenados e que, se quisessem, teriam a salvação pela fé em o nome de Jesus.”
A missão em Canguçu morreu no embrião, por isso que o seu povo na hora «H» fazia como os homens de Lucas
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14: todos a uma começavam a escusar-se – ao passo que a de Pelotas, vencendo, pela força do poder do Senhor nosso Deus, os embaraços que se lhe antolhavam, tais como a falta de local e a tendência de entravar nossa entrada no centro da cidade, continuou, na convicção que o Senhor não permitiria que a sua Palavra voltasse vazia para ele. E não voltou. Somos 37 luteranos. Nossos cultos apresentam uma assistência média de 50 pessoas e nossas coletas uma média de 15 cruzeiros; 80 alunos freqüentam nossa escola. Dia por dia nosso pequeno salão está repleto de ouvintes. Mas este progresso, esta benção se digladia com um problema que nos tem impedido grandemente de fazer a obra do Senhor com mais diligência: a falta de casa de aluguéis. Há muita oportunidade de comprar casa. Mas, de onde nos virá socorro? Precisamos atualmente, para acomodação humilde, a quantia de 50 a 60 mil cruzeiros.
Aqui parei. Pareceu-me ter dito tudo mas, como visse aflição nos olhares da minha pobre gente, pronunciei-lhes o meu consolo. «O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra!» - disse-lhes e nisto, lembrando-me de uma carta que minha querida auxiliar, a senhorinha professora Maria Silvéria dos Santos Flores, dirigira a seu irmão no Rio, tirei-a do bolso e li o seguinte:
«Alberto» - assim escreve ela - já não sou mais católica. Agora sou luterana de coração. A minha conversão à Igreja Evangélica Luterana do Brasil deu-se da seguinte maneira: na escola «Dr. ARMANDO Fagundes ministrava o Sr. Reverendo João José Alves, a pedido do diretor, o ensino religioso a um grupo de criancinhas. Suas lições agradaram-me de tal forma que passei a assisti-las com assíduo carinho. Um dia, tanto foi, que ele perguntou-me se eu tinha alguma religião. Respondi-lhe que sim: ‘Sou católica - disse-lhe – e toda a minha família também o é’. A isto nada me retrucou. Na seguinte vez, porém, convidou-me para assistir um de seus cultos. Declinei, receosa, do convite, objetando que não teria
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tempo. Ora, - disse-me ele - a senhorinha diz que não há tempo para isto; então ouça: quando nosso Senhor Jesus Cristo andava na terra, uma mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém andava distraída em muitos serviços, e, aproximando-se, disse: ‘Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe pois que me ajude.’ E, respondendo Jesus, disse-lhe: ‘Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária e Marta escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.’ Dito isto, aquele homem estendeu-me a mão e foi-se. Fiquei pensando e, sob rogos e orações, resolvi dar uma fugidinha até lá. Era domingo. Cheguei e entrei. Que contraste. Onde estava aquela pompa da minha igreja? Aqui quatro paredes nuas, uma mesinha e um punhadinho de gente. Sentei-me. Chegou a hora do culto. Diante de mim apareceu então aquele homem, agora, com uma veste comprida e preta, demonstrando que quem é de Deus escuta a Palavra de Deus e quem a não escuta, não é de Deus. Terminou! Suas palavras calaram fundo na minha alma, pois, estavam em choque com a doutrina da minha igreja e com a sua prática. Uma revolução se desencadeou dentro de mim. Quem teria razão? Fui-me ao padre: ‘Senhor Padre, dê-me a Bíblia!’ – disse-lhe. ‘Não, filha, é um livro perigoso!’ revidou-me ele. Saí desatinada. Andei, vaguei e domingo voltei novamente à capelinha, onde eu ouvira tão consoladoras palavras. Lá estava aquele homem, clamando: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.’ Falava assim de Jesus e só de Jesus, o único caminho pelo qual o homem entrará no Reino dos céus, que ele é a verdade de Deus para conosco e que é a nossa única esperança de vida e de salvação. Outrossim negou o argumento de que todas as religiões são boas, destituiu a intermediação dos santos e da Virgem Maria e concitou à fé. Saí mais impressionada ainda.
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Na minha igreja diz o padre: ‘Fazei obras de caridade; rezai missas; vinde a nós e confessai os vossos pecados e assim tereis o céu.’ Andei errada, mas desta vez não fui ao padre. Fui ao homem da capelinha e disse-lhe: ‘Senhor ministro, sinto minha fé abalada! Oriente-me!’ Longas horas de profunda conversação então se seguiram. Durante elas, reconheci que minha alma laborava no erro e, havendo-me certificado de toda a verdade, confessei-me publicamente à Igreja Evangélica Luterana do Brasil.”
“Agora, Alberto, sou luterana e dou graças a Deus. Troquei para sempre aquele exuberante ritualismo da fé católica pelo simples Evangelho do meu Jesus. Feri a benevolência de minha mãe e de meus parentes que me fazem ousada oposição. Atirei com os meus blocos, com meus bailes e com o meu trono de rainha e pus-me bem junto do meu irmão pastor ao inteiro serviço do meu Senhor. Que Deus me esforce, que me conserve, que me aumente a fé! Que me faça reconhecer cada vez mais claro o caminho da minha salvação e que me dê um ardente entusiasmo de levar este bem aventurado conhecimento para o seio de minhas amiguinhas com maior zelo ainda do que eu para o meio delas levá-las à vibração e o frenesi do prazer mundano!”
Maria Silvéria dos Santos Flores.
“Aqui termina”, disse eu. “Aqui”, exclamou um outro, “sejam dadas graças a Deus que nós dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!” “Amém”, disseram todos e saíram. Fiquei só. Fiz uma prece e saí também.
"Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR."
(Josué 24.15)